O Pai dos Nanorrobôs

(The Father of the Nanorobots)

by Vinícius Romanini

 

The following is a short excerpt from a Portuguese-language article by Vinícius Romanini, entitled "Desastres ambientais, vírus geneticamente modificados e novas tecnologias podem destruir nossa espécie" ("Ambient disasters, modified genetic viruses and new technologies can destroy our species") published in the Brazillian magazine Os Caminhos da Terra (The Ways of the Land), Issue #137, September 2003, pages 50-63. The excerpt appears on pp. 58-59.

September 2003 ecophagy artwork

 


 

O Pai dos Nanorrobôs
(The Father of the Nanorobots)

 

Numa entrevista exclusiva à TERRA, o cientista que está criando os nanorrobôs em laboratório explica os perigos que esse nova tecnologia oferece à humanidade

(In an exclusive interview with TERRA, the scientist who is creating nanorobots in the laboratory explains the dangers that this new technology offers humanity)

 

O pesquisador Robert Freitas é o maior especialista mundial em nanotecnologia aplicada à medicina. Físico, psicólogo e advogado, Freitas é o autor de mais de cem trabalhos técnicos sobre nanotecnologia publicados em revistas científicas. Em 1999, lançou o primeiro volume do livro Nanomedicina – considerado a bíblia de quem pesquisa nessa área – e dedica-se à confecção dos volumes II e III. Recentemente, completou o desenho de uma célula vermelha artificial, chamado “respirócito”, que permitirá ao homem ficar até quatro horas sem respirar. Em abril de 2000, Freitas publicou um artigo considerando os riscos de nanorrobôs auto-replicadores devorarem toda a vida na Terra, um processo que batizou de “ecofagia” (disponível na internet: www.foresight.org/NanoRev/Ecophagy.html). Veja, abaixo, o que ele pensa sobre os riscos envolvidos com a nanotecnologia.

(The researcher Robert Freitas is the biggest world-wide specialist in nanotechnology applied to medicine. Physicist, psychologist and lawyer, Freitas is the author of more than one hundred technical works on nanotechnology published in scientific journals. In 1999, he launched the first volume of the book Nanomedicine, considered the bible of those who research in this area, and he is dedicated to the completion of it in Volumes II and III. Recently, he completed the design of an artificial red cell, called “respirocytes,” that will allow a man to be up to four hours without breathing. In April of 2000, Freitas published an article considering the risks of self-replicating nanorobots to devour all the life on Earth, a process he named “ecophagy” (available on the internet: www.foresight.org/NanoRev/Ecophagy.html). Below, he says what he thinks on the risks involved with nanotechnology.)

 

VR: Num de seus artigos, o senhor discute a possibilidade de nanorrobôs devorarem tudo o que for vivo para se auto-replicar, até transformar toda a superfície da Terra numa geléia cinza e sem vida. Devemos considerar esse cenário seriamente?

(In one of your articles, you argue the possibility of self-replicating nanorobots to devour life, transforming all the surface of the Land into a gray jelly without life. Must we consider this scenario seriously?)

RF: Sim, esse risco existe teoricamente. Mas só haverá perigo real quando a tecnologia nos permitir a construção de nanorrobôs capazes de se auto-replicar na natureza, o que ainda poderá levar décadas para ser conseguido.

(Yes, this risk exists theoretically. But the technology allowing the construction of nanorobots capable of self-replication in the natural environment will not have real danger for a long time because it will take decades to be obtained.)

 

VR: Qual é o estágio atual da pesquisa com nanorrobôs?

(Which is the current period of training of the research with nanorobots?)

RF: Teremos nanorrobôs funcionando em dez anos e a tecnologia necessária para que eles possam se replicar automaticamente deverá existir em 20 anos. Ainda assim, os primeiros nanorrobôs auto-replicadores só vão se multiplicar em ambientes de laboratório como câmaras de vácuo ou tanques de nitrogênio líquido, onde o problema da vibração pode ser eliminado. Fazê-los multiplicar-se em ambientes naturais exigiria uma tecnologia muito difícil, que levaria décadas para ser desenvolvida.

(We will not have functioning nanorobots for at least ten years and the necessary technology for automatic self-replication will not exist for at least 20 years. Even then, the first self-replicating nanorobots will only be able to multiply in laboratory environments such as vacuum chambers or tanks of cold liquid nitrogen tanks, where the problem of molecular vibrations can be reduced [thus reducing positional errors during manufacturing]. To make them capable of multiplying in natural environments would demand a very difficult technology, one that would take decades to be developed.)

 

VR: Como evitar que isso aconteça?

(How can we prevent this from happening?)

RF: Defendo banimento de experimentos com máquinas capazes de se auto-replicar automaticamente em ambientes naturais. Acredito que a humanidade possa ter todos os benefícios da nanotecnologia, em termos de aumento na expectativa de vida e melhoria dos serviços da medicina, por exemplo, sem precisarmos nos arriscar na confecção de nanorrobôs capazes de replicação em ambiente natural. Se a maioria dos cientistas concordar com minha opinião, então poderemos adiar a criação de nanorrobôs perigosos por tempo suficiente para desenvolvermos sistemas de defesa contra eles.

(I defend banishment of experiments with machines capable of automatic self-replication in natural environments. I believe that humanity can have all the benefits of nanotechnology, in terms of increase of life expectancy and the improvement of medicine, for example, without needing to risk the construction of nanorobots capable of replication in the natural environment. If the majority of scientists agree with my opinion, then we will be able to postpone the creation of dangerous nanorobots for time enough to develop systems of defense against them.)

 

VR: E o que poderia deter nanorrobôs auto-replicadores, se algum dia existirem?

(And what could defend against self-replicating nanorobots, if some day they come to exist?)

RF: As defesas necessárias surgirão graças à mesma tecnologia que nos permitirá construí-los. Pense dessa forma: sabemos que um dia teremos que mexer com fogo, então também sabemos que um dia vamos precisar de quartéis de bombeiros. Ou seja: quando a era dos nanorrobôs chegar, or risco poderá ser minimizado pela instalação de uma estrutura de detecção e combate imediato de nanorrobôs fora de controle.

(The necessary defenses will appear thanks to the same technology that will allow their construction. Think of it this way: we knew that the day we had to live with fire, then we would also need teams of firemen. Similarly, when the age of nanorobots arrives, our risk could be minimized by the installation of a detention structure that provides an immediate response to control nanorobots.)

 

VR: Mesmo assim, corremos o risco de terroristas usarem nanorrobôs para matar milhões de pessoas.

(Exactly thus, we run the risk of terrorists to use nanorobots to kill millions of people.)

RF: Não acredito que os terroristas consigam captar os bilhões de dólares necessários para obter a replicação de nanorrobôs.

(I do not believe that terrorists can obtain the billions of dollars necessary to develop even the simplest replicating nanorobots.)

 

VR: Algum dia, os nanorrobôs serão considerados uma nova forma de vida? Estamos finalmente assumindo o papel de Deus?

(Some day, will the nanorobots be considered a new form of life? Are we finally assuming the role of God?)

RF: Estamos assumindo o papel de Deus todas as vezes que intervimos no mundo natural para melhorar nossa saúde ou aumentar a expectativa de vida usando novas tecnologias médicas, como as cirurgias e os antibióticos. Sem essas tecnologias, talvez apenas 5% das pessoas vivas no mundo hoje sobreviveriam – e, os que conseguissem, viveriam apenas até os 30 anos, como nossos ancestrais mais remotos. En acredito que a maior parte das pessoas aplaude as intervenções que fazemos.

(We are assuming the role of God every time that we intervine in the natural world to improve our health or to increase life expectancy using new medical technologies such as surgery and antibiotics. Without these technologies, perhaps only 5% of the people alive in the world today would survive, and those few survivors would live only to the age of 30 years, much like our distant ancestors. I believe that most of people applaud such interventions that we make.)

 


 

Robotica. O cinema já mostrou maquinas dominando o homem. Agora, cientistas temem que isso aconteça de verdade.

(Robots. The cinema already shows them dominating man. Now, scientists fear that this happens in truth.)

Os especialistas em novas tecnologias afirmam que o homem está fadado a se fundir com máquinas num nível tão fundamental que, até o final de século 21, será difícil afirmar se ainda seremos humanos ou se teremos nos transformado em cyborgs, metade homem e metade máquina. Segundo essas previsões, a fusão do homem com máquinas vai acontecer graças aos enormes avanços em duas áreas distintas: a da simulação de inteligência nos computadores e a da nanotecnologia.

(The specialists in new technologies affirm that man is predestined to cast with machines in a so basic level that, by the end of century 21, it will be difficult to still affirm if we will be human or if we will have transformed into cyborgs, half man and half machine. According to these forecasts, the fusing of the man with machines will happen thanks to the enormous advances in two distinct areas: the simulation of intelligence in computers, and the nanotechnology.)

Nanorrobôs “pensantes” vão poder realizar funções básicas de nosso organismo, como o combate a micróbios que causam infecções, eliminação de células cancerigenas e até a eliminação dos chamados radicais livres – principais responsáveis pelo processo de envelhecimento. Acoplados aos nossos neurônios, os nanorrobôs poderiam receber downloads de informações diretamente da internet, por exemplo, eliminando a necessidade de aprendermos por memorização. A aplicação dessas novas tecnologias nos permitiria, teoricamente, viver até duas vezes mais, aprender mais e sentir muito mais prazer.

(“Thinking” nanorobots would be able to carry through basic functions of our organism, such as combating the microbes that cause infections, eliminating cancerous cells, and eliminating the free radicals which are mainly responsible for the aging process. Connected to our neurons, the nanorobots could directly receive downloads of information from the internet, for example, eliminating the necessity to learn by memorization. The application of these new technologies would allow us, theoretically, to live up to two times more, to learn more, and to feel much more pleasure.)

Com perspectivas tão sedutoras, parece improvável que os humanos de futuro não se rendam completamente aos beneficios da nanotecnologia. A questão que se coloca, então, pode ser resumida pelo geneticista americano, John Sulston, un dos lideres de Projeto Genoma Humano, que seqüenciou nossa informação genética: “Quanto hardware não biológico poderemos instalar num corpo humano e ainda chamá-lo humano?”. A preocupação é que un dia sejamos tão dependentes das nanomáquinas que não poderemos mais viver sem elas. Os cientistas temem uma inversão nos papéis: os nanorrobôs e outras máquinas inteligentes assumiriam o controle. Os seres humanos e outras formas de vida tradicionais só existiriam para alimentar as colônias de nanorrobôs instalados em nossos corpos.

(So seductive is this perspective, it seems improbable that future human beings will not surrender completely to the benefits of nanotechnology. If it happens, the question this raises can be summarized by the American geneticist, John Sulston, one of the leaders of the Human Genome Project that sequenced our genetic information: how much non-biological hardware will we be able to install in a human body and still call it human? The concern is that one day we will be so dependent on the nanomachines that we will not be able to have more life without them. The scientists fear an inversion: the intelligent nanorobots and other machines would assume the control. Then human beings and other traditional forms of life would only exist to feed the colonies of nanorobots installed in our bodies.)

 


 

Last updated on 23 September 2003